Trabalho na educação há poucos anos, mas já partilhei de diversas perspectivas.
Aqui disponho a minha opinião, apenas minha, apenas hoje.
Amanhã é outro dia, e conservo-me o direito de mudar de opinião.
A transferência compulsória, termo novo que substitui a antiga e temida "expulsão", vem sendo discutida nos últimos tempos sobre seus reais efeitos na sociedade.
Nessa problemática minha opinião está formada: a expulsão não resolve o problema.
Conclusão à qual cheguei, principalmente, por ter recebido alunos expulsos.
Para alguns alunos, a transferência funciona, se iniciada e motivada por pais que estão dispostos a reavaliar a educação que deram ao aluno em casa, e em iniciar uma forma de tratamento e orientação para que o aluno aprenda a conviver. Você muda as companhias do jovem, e isso ajuda, mas nunca é o suficiente. Se o aluno não criou hábitos de comportar-se inapropriadamente, pode sim, se tornar solução.
Entretanto, a expulsão, na maioria das vezes é um fator extremamente negativo na construção do caráter e personalidade do educando, que ora se sente excluído, ora sente que tem autoridade, ora sente que “ninguém o suporta”, ora sente que “ninguém o supera”. O aluno que não aprendeu a conviver, a respeitar o espaço público e espaço do outro, e que não tem respeito às hierarquias, dificilmente vai agir de modo diverso em razão do lugar, do contrário, isso irá motivá-lo ao constante mau comportamento, e ainda, à irresponsabilidade com sua própria educação.
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Tipassim tio, se eu abalo no meu território, quando chegar em território alheio, eu faço uma nova gangue, falou ?
Disse o aluno.
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Então tá dona fia, leva pra casa esses delinquentes, vai apanhá desses bandidos que você está protegendo.
Disse o conservador.
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Mas lugar de aluno é na escola, esses professores hoje não sabem tratar os alunos, não deveria ser professor, não sabe controlar uma turma.
Disse a mãe.
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Primeiro, eu não acho que o aluno tem que fazer o que quiser, mas resolver o problema não é mudá-lo de local. Existem profissionais de diversas áreas procurando soluções cada um puxando a sardinha pro seu lado (eu não, por que nem de sardinha gosto. Eca!)
O Estado cobre a família de responsabilidades, porém lhes tira a cada dia mais autoridade, o “pater familias” das origens do nosso direito, está cada vez mais defasado, mais ignorado. Daí, os nossos pais da atualidade, que “nasceram como pais” dentro dessas perspectivas, já não tem a mesma ideia de responsabilidade. Pensam que é a escola que tem que dar educação, que o estado tem que dar saúde, e a criança deve comparecer perfeitas e limpas para as festas de família e fotos de redes sociais. Os pais que fogem a essa realidade, aqueles que intencionam exercer seu papel social encontram várias restrições, tendo que submeter-se a uma quantidade de limites que não levam em consideração a individualidade de cada família e de cada criança.
De outro lado, os educadores permanecem cada vez mais de mãos atadas, pois recebem diversos alunos, com diversas realidades, diferentes culturas e influências e níveis e tenta preparar a cada um, respeitando suas características como indivíduo, em meio a todas essas realidades distintas, e além disso, tem que trabalhar com o indivíduo que não tem o menor respeito pelo espaço comum ou alheio. O educador é desrespeitado pelo aluno, pelo pai do aluno, pela sociedade, pela comunidade, pelos governantes, e, algumas vezes, pelos próprios colegas. O educador dá piruetas numa sala, vira contorcionista para ser flexível o suficiente para adequar-se e atender a todos. Às vezes, falha. Mas nunca merece ser desrespeitado.
Quando isso ocorre dá vontade de chutar o pau da barraca mesmo, e solicitar a imediata transferência compulsória do (considerado) aluno-problema, aquele que conduz a orquestra de comportamentos inapropriados e desafina a ópera de suas aulas. Dá, ah, com certeza, muita vontade de eliminar o problema. E talvez numa perspectiva local, pode parecer que funcionou. Mas basta olhar o geral, o todo, para ver que a solução não é essa.
Além de não ser solução, a transferência compulsória gera novos problemas sociais, e solidifica velhos problemas.
Além de não ser solução, a transferência compulsória gera novos problemas sociais, e solidifica velhos problemas.
A solução? Ainda não foi encontrada #DesculpaSociedade #SóLamento
Existem meios alternativos, vários, e cada um se aplica a uma realidade, a um indivíduo. O que vale ainda, é o nosso bom e velho caso-a-caso, unir forças de escola-família-conselho tutelar-profissionais da saúde (sim, e nem sempre saúde mental viu?) e traçar estratégias individuais para cada “aluno-problema”, visando defender sua construção como ser social, cidadão, e sua formação para o trabalho.
É importante é recordar que, legalmente, a transferência compulsória é ilegal, pois a Constituição Federal estabelece, a LDB reafirma, e o ECA corrobora o direito máximo de aluno, que lhe defende o “acesso” e “permanência” à escola.
Salve, salve, Pátria Amada!!!
Até a próxima!
@DiasJennifer